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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Não há mais horário seguro sob o sol


Sabe aquela regra que diz que, entre as 10 e as 16 horas, você deve evitar se expor aos raios solares? Pois um estudo brasileiro coloca a recomendação em xeque. Marcelo Paula Corrêa, meteorologista e coordenador de mestrado em meio ambiente e recursos hídricos da Universidade Federal de Itajubá, em Minas Gerais, vem pesquisando, há alguns anos, o índice ultravioleta (IUV) — escala que traduz a intensidade com que a radiação atinge a atmosfera — em vários pontos do Brasil. E a investigação do pesquisador vem mostrando que, no nosso país, não há mais estação, período do dia nem região em que é possível perambular ao ar livre sem se cuidar. 

TODA HORA É HORA DE SE PROTEGER DO SOL

“É curioso como muitas pessoas acham que, até às 9 horas e 9 minutos da manhã, podem tomar sol à vontade. E, só 60 segundos depois, acreditam ser necessário fazer de tudo para se proteger dele", reflete o dermatologista Sérgio Schalka, coordenador do Departamento de Fotobiologia da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Esse comportamento, claro, é fruto da tão propagada regra geral de evitar se expor demais entre as 10 e as 16 horas, momento em que a radiação ultravioleta de fato incide com força. "Mas, no nosso país, não é raro encontrar já antes desse horário uma incidência elevadíssima de raios solares", avisa Marcelo de Paula Corrêa, meteorologista e coordenador de mestrado em meio ambiente e recursos hídricos da Universidade Federal de Itajubá, em Minas Gerais. Há alguns anos, o pesquisador vem calculando, em vários pontos do Brasil, o chamado índice ultravioleta (IUV). Esse método traduz a intensidade com que a radiação atinge a atmosfera em uma escala numérica que vai de O a 11 ou mais. Atualmente, ele é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde como uma forma de nos alertar sobre o potencial nocivo do sol em determinado local e época do ano. "Em Natal, por exemplo, antes das 9 e meia essas medições já chegam a alcançar o número 10, nível tido como muito alto e que demanda cuidado", revela Corrêa. Isso, aliás, não é privilégio das regiões Norte e Nordeste. Especialmente no verão, cidades situadas bem ao sul do território nacional também apresentam taxas estratosféricas. E, mesmo no inverno, é comum achar em municípios do Oiapoque ao Chuí valores acima de 6, considerados altos. É verdade que, naqueles dias nublados, as nuvens seguram parte da radiação - e isso não é levado em conta pelo IUV (índice ultravioleta). Porém, via de regra não existe horário ou local no nosso país em que dá para deixar o organismo completamente à mercê do sol.

Visão sob risco 



Não é só a pele que sofre com o excesso de sol. A catarata e a degeneração macular são algumas das doenças nos olhos que podem surgir devido aos danos que os raios ultravioleta causam ao longo dos anos", diz Tiago Prata, oftalmologista da Universidade Federal de São Paulo e diretor clínico do Hospital Medicina dos Olhos. Hoje, há até lentes de contato com foto proteção. Ainda assim, elas não resguardam o olho todo. Daí, vale colocar óculos escuros com filtro ao sair por aí.

Os Raios UVs e o Infravermelho

UVB

Quanto mais próximo do meio-dia, maior sua intensidade. Essa variedade de radiação ultravioleta atinge a epiderme, a camada superficial da pele, causando inflamações agudas - são as queimaduras, ou eritemas. Ela pode lesar o DNA de certas células e, assim, financiar um câncer.
UVA

O comprimento de sua onda é maior do que a do UVB. Ela não deixa marcas imediatamente após a exposição, mas, por estimular a produção de radicais livres na derme, envelhece a pele e aumenta o risco de tumores, em especial o melanoma, versão mais agressiva dessa doença.

INFRAVERMELHO

Esquenta o corpo e penetra mais fundo na pele do que os outros raios - o que, atenção, não quer dizer que seja mais perigoso. Por ajudar a degenerar as fibras de colágeno, acaba tirando a elasticidade da pele, o que dá um aspecto flácido e envelhecido a ela.

A radiação ultravioleta B (UVB) foi a primeira a ser relacionada com o câncer e a virar alvo da indústria, que desenvolveu filtros solares para barrá-la. Na sequência, os estudiosos descobriram que os raios ultravioleta A (UVA), também estragavam a pele e fomentavam tumores. Os fotoprotetores passaram, então, a incluir substâncias que os bloqueavam. Agora, é a radiação infravermelha - emitida pelo solo dia inteiro - que vem ganhando destaque nos laboratórios. "Ela participa do envelhecimento celular", resume Adilson Costa, chefe do Serviço de Dermatología da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, no interior paulista. Em um trabalho recente, o dermatologista mostrou que os raios infravermelhos culminam na liberação de metaloproteinase-1, enzima que degrada o colágeno. E essa molécula é uma das responsáveis por conferir firmeza à pele. Contudo, será que essa forma de energia estaria por trás de tumores?

Até o momento, não há resposta certeira para a pergunta. Conhecido mesmo é o jeito de atenuar o impacto dessa radiação. "Isso é possível por meio de fotoprotetores com antioxidantes", destaca Costa. Entretanto, nem todo antioxidante é eficaz na empreitada. "É imprescindível provar a ação em testes padronizados", aponta o médico. Apesar de alguns filtros com essa blindagem extra estarem disponíveis, os fabricantes não necessariamente põem tal informação na embalagem. A saída é consultar um dermatologista para que ele indique a fórmula adequada.



Independentemente do tipo de protetor, uma das grandes preocupações dos especialistas está na aplicação. Primeiro porque o brasileiro não tem o costume de se besuntar com esse produto no dia a dia. Segundo que, para o filtro não perder parte de seu poder, são necessários 2 gramas por centímetro quadrado de pele. E quase ninguém bota tudo isso. "Com essa quantidade, uma família com dois filhos esvaziaria um pote em uma ida à praia", contextualiza Marcus Maia, dermatologista da Santa Casa de São Paulo. Se é difícil - e caro - utilizar o filtro como recomendado, não dá para jogar toda a responsabilidade de nos resguardar dos raios solares em cima desses produtos.



O conceito moderno de fotoproteção vai muito além disso", reforça Rafael Schmerling, oncologista do Hospital São José, em São Paulo. Ele engloba, por exemplo, a busca por guarda-sóis e sombrinhas de qualidade, capazes de refletir devidamente a energia vinda do sol; a tentativa de, em dias com céu azul, percorrer trajetos na sombra etc. Hoje, inclusive, é possível adquirir roupas com fator de proteção solar, que impedem a passagem da maioria da radiação ultravioleta. "Se, por uma razão, não puder comprá-Ias, prefira vestir trajes vermelhos ou azuis quando se expuser ao ar livre por um tempo prolongado", orienta Maia. Essas cores seguram um pouco dos raios e não aquecem tanto o corpo.



A indústria também começa a oferecer comprimidos que, ao serem engolidos, aumentam a resistência contra os danos ocasionados pelo sol. "Tais cápsulas possuem concentrações elevadas de certos antioxidantes. E eles minimizam, na pele, o estrago dos radicais livres, moléculas produzidas em larga escala quando entramos em contato com os raios solares", explica Schalka. "Mas essa estratégia não deveria ser adotada sem prescrição e de maneira alguma substitui os protetores tradicionais", pondera Elisabete Pereira dos Santos, farmacologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Acima de tudo, o conceito de fotoproteção envolve autoconhecimento. "Cada tipo de pele demanda cuidados específicos, que ainda variam de acordo com mudanças climáticas", garante Schalka. Pessoas branquinhas e que queimam facilmente devem, claro, ter uma relação diferente com o sol em comparação com as de pele mais escura. Nada melhor do que conversar com um dermatologista para respeitar suas características e conviver sem medo com os raios luminosos.

AO QUE FICAR ATENTO

"O fator de proteção solar (FPS) não é o único aspecto que importa ao optar por um filtro. Veja no rótulo se ele bloqueia tanto os raios UVB como os UVA. Caso pretenda ir à praia, confira na embalagem se o produto sai na água. E respeite os horários de reaplicação descritos pelos fabricantes.



UM SÉRIO FATOR DE RISCO

"Os raios solares são a principal causa de câncer de pele no mundo", assegura Dolival Lobão Veras Filho, chefe da seção de dermatologia do Inca. "No Brasil, ele é muito incidente: corresponde a 25 de todos os tumores", diz.

Como usar o IUV( Índice Ultra Violeta) em prol da saúde e onde encontrá-la:

Acesse http://satelite.cptec.inpe.br/uv/ e dique em "IUV Máximo" para ver dados atualizados do índice em todo o Brasil.

Fonte: Revista "Saúde é Vital" Outubro /2013 - Texto de Theo Ruprecht

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