O câncer de pele é a doença maligna mais freqüente no ser humano. É, porém, de fácil diagnóstico, apresentando altos índices de cura, se descoberto precocemente.
Acompanhe a entrevista do oncologista Sormany Del Carmo de Azevedo Cordeiro e tire suas dúvidas sobre esta doença:
Câncer de Pele
1- O que é o câncer de pele?
A pele é considerada o maior órgão do corpo humano e tem, como função, proteger o corpo contra o calor, a luz e as infecções, além de regular a temperatura do corpo, servir como reservatório de água, de vitamina D e de gordura. A pele é dividida em 2 camadas: externa (epiderme) e interna (derme). O câncer de pele é a doença maligna mais freqüente no ser humano, correspondendo a cerca de 25% dos tumores malignos registrados no Brasil. É, porém, de fácil diagnóstico, o que facilita a precocidade da sua descoberta, apresentando, portanto, altíssimos índices de cura (acima de 95%). O câncer de pele é mais comum em indivíduos acima de 40 anos de idade, sendo raro em crianças e negros. Pessoas com pele de cor branca, com histórico pessoal ou familiar de câncer de pele, com áreas de cicatrizes crônicas (causadas por queimaduras, picada de cobra ou osteomielite), imunodeprimidas (transplantado renal, portadores do vírus HIV), com exposição a radiações ionizantes e a substâncias químicas (arsênico, hidrocarbonetos), com genodermatoses (pessoas albinas ou que tenham xero derma pigmentoso, doença congênita que se caracteriza pela intolerância total da pele ao sol), e principalmente aqueles que se expõem aos raios ultravioletas do sol fazem parte do grupo de maior risco para o câncer de pele.
2- Quais raios ultravioletas atingem a Terra?
A radiação ultravioleta, conhecida como UV, faz parte da luz solar que atinge o nosso planeta. No entanto, em função dos buracos na camada de ozônio, provocados pela nossa civilização, estamos expostos a essa radiação sem qualquer proteção. Com isso, os raios UV podem causar queimaduras, fotoalergias, envelhecimento cutâneo e até o câncer de pele. A radiação ultravioleta é divida em: UVA, UVB e UVC. A radiação UVC não provoca danos à pele, pois sequer atinge a superfície terrestre, mas o mesmo não acontece com o UVA e o UVB. A quantidade de radiação UVA e UVB atinge a superfície terrestre, variando de acordo com a latitude, altitude e estação do ano. O UVB é mais intenso no verão, enquanto o UVA possui intensidade durante o ano inteiro, sendo que 80% da radiação do UVB e 70% do UVA ocorrem entre 10 e 14 horas. Os efeitos negativos agudos da radiação UVB são inflamação, queimadura, bolhas, pigmentação, hiperplasia (Aumento do numero de células do tecido afetado). A exposição contínua, com o passar do tempo, torna os efeitos dessa radiação crônicos, podendo levar o indivíduo a problemas, como fotoenvelhecimento, foto carcinogênese, imunossupressão, eritema tardio, entre outros.
Já o excesso de exposição UVA gera reações fotoalérgicas, fototóxicas e eritema, com efeitos crônicos, como fotoenvelhecimento e foto carcinogênese. Um grande equívoco se refere aos dias nublados. Nesses dias, enquanto a luz visível e a radiação infravermelha são absorvidas pelas nuvens, levando a uma sensação de menos calor e incômodo do sol, a radiação ultravioleta penetra até 90% na superfície, com conseqüente super exposição aos menos avisados. Outro cuidado que se deve ter é em relação à capacidade de reflexão da luz solar nas diferentes superfícies. Neve e gelo são capazes de refletir cerca de 80% da radiação UV, enquanto a areia reflete cerca de 17% e a água de 5% a 20% dependendo do horário do dia.
3- Como evitar o câncer de pele?
Pele branca, exposição solar e tempo de exposição. Essas são as 3 principais condições para o desenvolvimento do câncer de pele. Para prevenir o seu aparecimento é fundamental evitar a exposição solar ultravioleta, principalmente nos horários entre 10 e 16 horas, nos dias nublados e chuvosos. Dobrar os cuidados com superfícies refletoras, como areia, neve, concreto e água com proteção constante de chapéus, óculos escuros, guarda-sóis, barracas e, filtro solar, fator de proteção 15, no mínimo. Evite bronzeamento artificial, pois o UVA também está presente nas câmaras de bronzeamento artificial, em doses mais altas do que na radiação proveniente do sol. E faça o auto-exame.
4- Qual deve ser o uso correto do filtro solar?
O principal meio para evitar e prevenir o câncer de pele é fazendo uma foto proteção adequada. O protetor solar deve ter no mínimo o fator de proteção número 15. A partir daí, a intensidade de proteção do filtro solar deve ser indicada de acordo com o tipo de pele e tempo de exposição solar. Também é muito importante reaplicá-lo a cada duas horas, principalmente após transpiração excessiva e mergulhos. O filtro solar deve ser aplicado em toda a pele exposta ao sol, onde a roupa não oferece proteção. Não esquecer das orelhas, principalmente em quem tem cabelo curto, do couro cabeludo nos calvos, e da boca, que tem protetor solar específico, disponível em bastão. A aplicação deve ser feita 30 minutos antes da exposição. A proteção solar deve ser iniciada desde a infância, o mais precoce possível. Para crianças, menores de 2 anos, há filtro solar com proteção especial para a idade.
5- Por que a maioria dos cânceres de pele se localiza na face?
Essa é a região do nosso corpo que sofre exposição direta dos raios solares, por isso a maioria dos cânceres de pele se origina na face ou em qualquer outro local exposto e podem se iniciar de várias maneiras, como uma ferida que não cicatriza, uma úlcera, uma pinta, um nódulo ou uma lesão prévia que se modifica. As pessoas que fazem parte do grupo de risco para o câncer de pele devem fazer uma visita anual a um oncologista ou dermatologista para a avaliação da pele e possíveis diagnósticos precoces. Aquele que já teve um câncer de pele deve seguir as orientações médicas para acompanhamento periódico, de acordo com a gravidade do caso e ficar atento, voltando ao especialista imediatamente, caso observe alguma alteração, fazendo sempre o auto-exame.
6- Como se faz o diagnóstico e quais são os tipos de câncer de pele?
O diagnóstico do câncer de pele é baseado na epidemiologia, nos aspectos clínicos e na investigação e diagnóstico das células suspeitas, através de biópsia. Às vezes, dependendo do tamanho da lesão, sua localização e sua profundidade, necessitamos de exames de imagem, como Raios X, Tomografia Computadorizada e Ressonância Magnética para melhor dimensionamento. A pele pode ser sede de alguns tipos de câncer: O Carcionama Basocelular origina-se na camada basal da epiderme (pele), onde ocorre a multiplicação celular. É o câncer de pele mais freqüente, cerca de 70% dos casos, e acomete igualmente ambos os sexos. Apresenta crescimento lento, mais comum em áreas expostas do corpo, sendo que 30% acontecem no nariz. O sol é o fator precursor mais importante. Pode ser agressivo e determinar a destruição do local lesado, se não tratado precocemente.Pode se manifestar de várias formas, como nódulo ulcerado, lesão plana, aspecto cicatricial, avermelhado, endurecido e bem ou mal delimitado. Não acontece na palma das mãos, na planta dos pés e nas mucosas. O Carcinoma Espinocelular é o câncer de pele que se desenvolve a partir da camada espinhosa da pele e representa 25% dos cânceres de pele. Comuns em áreas foto expostas e na mucosa labial. É mais agressivo que o câncer basocelular e pode gerar metástase para linfonodos e/ou vísceras. O Melanoma Maligno é o câncer de pele que, apesar de mais raro (incidência em torno de 4% dos casos), é o que apresenta maior morbidade/mortalidade. O Melanoma se desenvolve a partir das células chamadas melanócitos e tem distribuição semelhante entre homens e mulheres, de qualquer faixa etária, porém é raro antes dos 15 anos. Pode gerar metástase. Geralmente, esse tipo de câncer de pele está associado a diversos fatores, como indivíduo de pele branca, que sofre ou sofreu exposição solar intermitente, queimadura solar na infância, genodermatoses (albinismo e xero-derma, que são aqueles que têm intolerância à exposição solar), nervos congênitos (pintas ou sinais presentes no corpo quando nascemos). Por isso, as mães devem observar seus bebês e protegerem adequadamente sua pele do sol), história familiar e pessoal, entre outros fatores. O Melanoma Maligno pode aparecer em qualquer área da pele, inclusive em áreas não foto-expostas. Manifesta-se principalmente com pintas (lesões de pele pigmentadas de cor escura), planas ou nodulares, com ou sem ulceração. No diagnóstico das lesões pigmentadas, usamos a regra do ABCD.
A- assimetria: ao dividirmos a lesão ao meio, as duas metades não são iguais
B- bordas: contornos irregulares
C- coloração: heterogênea, com mais de uma cor
D- diâmetro: maior que 6 milímetros
O diagnóstico de certeza é feito com a biópsia, com total retirada da lesão, para que seja definida a espessura do Melanoma e a melhor conduta a ser seguida, como a cirurgia, que é o tratamento que alcança melhores resultados e, dependendo do estágio da doença, a radioterapia e a quimioterapia são indicada. Apesar de ter alta letalidade, quando diagnosticado no início, é curável. A média mundial de sobrevida, em 5 anos, é de 69%.
Mas, nos casos de metástase, o Melanoma é praticamente incurável e os locais onde o tumor costuma se disseminar são os linfonodos e outros órgãos, como os pulmões, ossos, fígado e o sistema nervoso central.
7- Como é o tratamento?
O sucesso do tratamento do câncer de pele depende principalmente do diagnóstico precoce sendo que, ao retirar ou destruir totalmente o tumor, tem-se como objetivo a preservação do tecido normal, a função e o melhor resultado estético. Deve-se levar em consideração o tipo de câncer, o tamanho e o número de lesões, a definição das bordas, se o câncer é primário ou se é uma recidiva e de sua localização anatômica.
A cirurgia é a principal modalidade de tratamento e é a que oferece maior índice de cura. A radioterapia pode ser usada como tratamento exclusivo, sendo necessária uma biópsia prévia. Também pode ser usada como complemento da cirurgia, em que as margens de segurança na retirada da lesão não foram adequadas (adjuvante) e ainda como tratamento paliativo, em situações de doença avançada, para o controle da dor e do sangramento, e outros casos específicos. A quimioterapia fica reservada para situações de metástase, na condição de tratamento paliativo. Existem outras opções, como a crioterapia (congelamento da área tratada, com conseqüente morte celular pelo frio), o laser, a eletro-cauterização e os cremes à base de ácidos. A grande vantagem do tratamento cirúrgico é poder ressecar completamente a lesão com margem de segurança, retirando a lesão tumoral no subcutâneo, preservando a pele sadia ao redor, proporcionando um controle melhor do local operado. O tamanho da margem de segurança depende do tipo de tumor de pele. Quanto mais agressivo, maior é a margem de segurança.
8- E quando a cura não é mais possível?
Existem situações em que o câncer não pode ser curado. Nesse momento, mais do que nunca, o paciente precisa de assistência multidisciplinar, com médico, psicólogo, fisioterapeuta e outros profissionais e, principalmente, do carinho da família e dos amigos. É necessária a assistência para controle da dor e dos sangramentos.
Fonte: Revista Boa Vida
Nenhum comentário:
Postar um comentário