Um rosto empipocado de espinhas costuma ser marca registrada da adolescência. Mas se, com o passar dos anos, elas persistem, podem sinalizar alguns desequilíbrios no organismo. Entenda tudo o que pode estar por trás do problema e conheça os tratamentos que vêm por aí
Muito marmanjo e mulher feita andam por aí com a cara pintada. É que, vira e mexe, lesões vermelhas, cheias de pus, resolvem colorir a face de indivíduos que já deixaram a adolescência para trás. Os especialistas estimam que um em cada dez adultos padeça com a acne, problema mais associado à faixa etária teen, que vive em um turbilhão hormonal. Acontece que, nesse pessoal mais velho e com muitas espinhas, os hormônios continuam em ebulição.
Não importa a idade, a lesão de pele começa nos folículos, aqueles orifícios que abrigam a raiz dos pelos e glândulas sebáceas, responsáveis pela secreção da gordura que forma uma película protetora sobre a pele. "Só que, na acne, essas glândulas produzem sebo em excesso", explica o dermatologista Adilson Costa, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, no interior paulista. "Dessa forma, as bactérias que vivem normalmente sobre a pele se alimentam do material gorduroso, liberando toxinas que disparam uma inflamação", continua. Aí, como num campo minado, as espinhas eclodem, estampando o rosto com aqueles pontos avermelhados e doloridos.
Nos adultos, em especial, a genética tem lá suas pinceladas de culpa nesse fenômeno que derruba a autoestima de muita gente. "O DNA pode determinar uma glândula sebácea de tamanho exagerado e torná-la hiperativa", afirma a dermatologista Denise Steiner, de São Paulo. Pelo menos no time masculino, essa é a principal causa do problema. Sem falar nos anabolizantes a que muitos marombeiros recorrem indiscriminadamente para inflar os músculos e que, sim, interferem na oleosidade cutânea.
"Já nas mulheres, os genes costumam predispor à chamada síndrome dos ovários policísticos (SOP), que, como o próprio nome sugere, se caracteriza pela formação de cistos nesses órgãos", esclarece o endocrinologista Cristiano Barcellos, do Hospital das Clínicas de São Paulo. O distúrbio está associado a uma maior produção do hormônio masculino testosterona — que também está presente nelas em dosagens ínfimas e que, por sua vez, incita o folículo a liberar mais e mais sebo.
A acne se torna pior ainda se o indivíduo tiver resistência à insulina, quando esse hormônio não consegue queimar o açúcar circulante. O pâncreas tenta compensar essa situação liberando dosagens extras da substância. "A questão é que níveis altos de insulina levariam a uma maior fabricação de testosterona pelos ovários", diz Barcellos. Felizmente, a medicina traz novidades que prometem livrar o rosto desses adultos do visual de cacto.
Enfrentar o espelho e encarar as espinhas não é fácil. Mas hoje existem incontáveis opções de tratamento. E, para se somar às terapias já consagradas, surgem algumas boas alternativas, que foram anunciadas recentemente no Congresso Europeu de Dermatologia, na Alemanha. Em breve, devem ser adotadas por aqui. "Uma delas é a metformina, já empregada na reversão da resistência à insulina porque diminuiria a atividade da glândula sebácea", conta o dermatologista Marcelo Bellini, de São Paulo, que participou do evento.
Outra novidade é o acetato de ciproterona, um contraceptivo com efeito anti-oleosidade. Bellini também destaca a associação de uma substância chamada adapaleno com o peróxido de benzoíla. Esse composto atuaria na redução dos poros, na esfoliação superficial da pele e no controle do sebo. No encontro da Alemanha, os cientistas também ressaltaram a eficácia da doxicilina, um antibiótico com efeito anti-inflamatório, e do tazaroteno, derivado de vitamina A, que age na glândula sebácea, com a vantagem de provocar pouca irritação na pele.
E, claro, dá para contar com outros medicamentos já estabelecidos no mercado para esse fim. Para eleger o melhor recurso, os médicos lançam mão de testes de sangue com o objetivo de verificar os níveis hormonais. Nos últimos tempos, também pedem exames de imagem para flagrar cistos ovarianos e alterações na suprarrenal. "A meta é diagnosticar e tratar distúrbios por trás do problema", afirma Denise Steiner. "Em caso de ovários policísticos, podemos prescrever anticoncepcionais ou antiandrogênicos, drogas que baixam as taxas de testosterona", exemplifica.
Tratados os motivos, é hora de focar diretamente na acne. "Se ela for branda, receitamos substâncias tópicas como o ácido retinoico ou o salicílico, que desobstruem o folículo e renovam as células superficiais da pele", descreve a dermatologista Claudia Maia, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, no Rio de Janeiro. Muitas vezes, é necessário associar um antibiótico oral para aniquilar as bactérias.
Quando nada disso funciona, o jeito é apelar para a famosa isotretinoína, campeã no nocaute às espinhas. "Ela diminui o tamanho da glândula sebácea, desentope os poros e breca a liberação de gordura", garante Denise. Mas atenção: o remédio é contraindicado em casos de gravidez, doenças do fígado e taxas de colesterol altas.
Não dê brecha para o surgimento de espinhas
›› Cuidado com o sol Uma exposição discreta ajuda a secar as espinhas, devido ao efeito antibacteriano dos raios ultravioleta. Mas o exagero faz o inverso: estimula a oleosidade, atraindo micróbios. Por isso, banho de sol só de manhã cedo ou no final da tarde, e munido de protetor não oleoso.
›› Higiene no travesseiro Lembre-se de trocar a fronha a cada dois ou três dias. A dica vale, especialmente, para quem apresenta lesões com pus ou tem a pele gordurosa. A secreção e o sebo favorecem a proliferação de bactérias, que, claro, agravam o quadro.
›› Pele limpa A poluição e os resíduos cosméticos obstruem os poros e intensificam as lesões. Faça a higienização com um sabonete facial pelo menos de manhã e à noite. Quando necessário, recorra a uma limpeza de pele profissional.
›› Maquiagem certa Alguns cosméticos sobrecarregam a cútis feminina. Para impedir que contribuam para a formação de espinhas, opte pelos chamados oil free, livres de gordura. E remova os produtos antes de dormir.
›› Durante o banho O sabonete comum, para o corpo, não é ideal para o rosto. Prefira um produto facial, mais neutro. O mesmo vale para o xampu, porque os muito oleosos engorduram a pele, inclusive a das costas, ao escorrer sobre elas durante o banho. Pelo mesmo motivo, economize nos condicionadores.
›› Equilíbrio no prato Determinados alimentos estimulariam a glândula sebácea, induzindo a produção de sebo. Por isso, maneire no leite, nas gorduras hidrogenadas de itens industrializados, no açúcar e nos alimentos com alto índice glicêmico — aqueles que são rapidamente absorvidos pelo corpo —, como a banana e o pão branco.
Mitos e verdades sobre acne
SAÚDE desvenda cinco frases comuns sobre as espinhas1. Comer chocolate piora a acne
Mito. O cacau, em si, não é prejudicial. Por isso, o chocolate amargo, por exemplo, não está na berlinda. Os verdadeiros vilões são o açúcar e o leite, que, segundo novas pesquisas, intensificariam o problema.
2. Fazer a barba contra o sentido do pelo agrava as lesões
Verdade. A ação mecânica provoca irritação na pele de alguns homens, o que gera obstrução nos poros e dificulta a cicatrização das espinhas. Para os que sofrem de acne, o melhor é se barbear no sentido em que cresce o pelo.
3. A atividade física reduz a acne
Verdade, embora de forma indireta. É que, muitas vezes, o estresse é o gatilho das lesões. E a malhação promove a liberação de substâncias no cérebro, como as endorfinas, que ajudam a relaxar.
4. Espremer a espinha acelera a cicatrização
Mito. Ao contrário: as unhas contaminadas contribuem ainda mais
para a proliferação de bactérias, impedindo a melhora do quadro.
5. Cravos podem inflamar e se tornar espinhas
Verdade. Os chamados comedões — nome que se dá aos cravos que inflamam — são uma espécie de estágio anterior à espinha. O folículo, no caso, já está obstruído e é muito provável que isso evolua para lesões vermelhas, cheias de pus.
Com os nervos à flor da pele
É consenso entre os especialistas que o estresse presenteia a pele com espinhas, embora o mecanismo ainda seja uma incógnita. “Diante de uma situação de nervosismo, a glândula suprarrenal aumenta a produção do hormônio cortisol”, especula a dermatologista Meire Brasil, da Universidade Federal de São Paulo. “Por sua vez, ele estimularia a glândula sebácea, criando as condições ideais para a acne”, continua. Sem contar que a tensão derruba a imunidade. Sem os guardiões do organismo a postos, o caminho fica livre para as bactérias fazerem a festa nos folículos. Por essas e por outras, durma bem, faça atividades que relaxem e que sejam prazerosas. Sua pele agradece!
Marcas profundas
Quando a acne é severa, as lesões deixam manchas escuras e até cicatrizes que alteram o relevo da pele. “Quando há apenas manchas, o peeling costuma melhorar a aparência”, garante Adilson Costa. Trata-se da aplicação de produtos químicos que agridem a camada cutânea superficial. Ocorre, assim, uma descamação que elimina células mortas e escurecidas. Mas, se o efeito casca de laranja já se instalou, a saída é tentar uniformizar a pele, valendo-se de técnicas como o laser fracionado ou, em última instância, a dermoa brasão. O tratamento à base de laser consiste em aplicações que induzem a produção de fibras de colágeno e elastina, substâncias que regeneram o tecido. Já a dermo abrasão é uma espécie de lixação cirúrgica que, mais agressiva, causa certo desconforto por alguns dias.
por ADRIANA TOLEDO | fotos EDUARDO SVEZIA
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